terça-feira, 29 de abril de 2025
MPF recomenda retirada de homenagens à ditadura militar em cidades do RN
O Ministério Público Federal (MPF)
recomendou ao governo do estado, à Assembleia Legislativa e às prefeituras e
câmaras de 10 municípios do Rio Grande do Norte a retirada de homenagens feitas
à ditadura militar e a colaboradores diretos do regime, que durou de 1964 a
1985. Pelo menos 80 ruas, praças e outros espaços públicos dessas cidades levam
o nome de ex-ditadores ou fazem referência à data do golpe de 1964: 31 de
março. Um desses casos é o da Ponte de Igapó, que se chama Presidente Costa e
Silva oficialmente.
A iniciativa da Procuradoria Regional
dos Direitos do Cidadão (PRDC) abrange, por enquanto, apenas parte das
homenagens indevidas já identificadas em território potiguar. Segundo
levantamento do MPF, há pelo menos 542 prédios, salas, auditórios, centros culturais,
escolas, vias, bairros, monumentos e bens públicos que se enquadram nessa
situação. As 11 recomendações dizem respeito somente a municípios cuja atuação
cabe à PRDC na capital (confira a área de abrangência da procuradoria).
Prazos
Apesar do número já alto, a quantidade
de homenagens pode ser ainda maior. As recomendações estipulam 90 dias para
prefeituras, governo do estado, câmaras municipais e Assembleia Legislativa
apresentarem um estudo com levantamento de todos os locais públicos, em suas
áreas de atuação, cujos nomes contenham referências, elogios ou homenagens a
colaboradores da ditadura militar.
O prazo para que esses locais tenham
seus nomes modificados é de 120 dias e, em 180 dias, os entes públicos deverão
apresentar ainda relatórios contendo o nome de todas as pessoas mortas,
desaparecidas ou torturadas durante o período militar em seus municípios. Com
essas informações, os casos envolvendo outras regiões do estado serão
encaminhados aos procuradores da República responsáveis, para que estes avaliem
a adoção das medidas cabíveis.
Caso as recomendações não sejam
atendidas, o MPF poderá ingressar com ações judiciais contra os gestores.
Autoritarismo – Manter elogios ou
homenagens a colaboradores da ditadura militar – aponta o procurador regional
dos Direitos do Cidadão, Emanuel Ferreira – favorece a “naturalização e a
aceitação de um período autoritário, promovendo continuidades que normalizam
tentativas de golpe ainda hoje no Brasil”. Ele ressalta que é necessário
preservar a memória sobre esse período, mas principalmente disseminando o
conhecimento sobre as condutas criminosas de seus agentes, para evitar que se
repitam.
O Supremo Tribunal Federal (STF) já
proibiu uso de recursos públicos em comemorações relativas ao golpe de 1964, e
a PRDC entende que a manutenção das homenagens em espaços públicos podem
configurar ato de improbidade administrativa.
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