sexta-feira, 10 de outubro de 2025

Enquanto o trabalhador luta por uma aposentadoria com perdas, ministro se aposenta com salário integral

 


Aposentar-se no Brasil é, para a maioria dos trabalhadores, o fim de uma longa batalha — marcada por anos de contribuição, exigências crescentes e, no fim, redução da renda. Na outra ponta, ministros do Supremo Tribunal Federal encerram suas carreiras recebendo praticamente o mesmo salário de quando estavam na ativa.

O ministro Luís Roberto Barroso, de 67 anos, anunciou que deixará o STF e, mesmo aposentado, continuará recebendo R$ 46,3 mil brutos mensais, segundo o Portal da Transparência da Corte. A única perda será o abono de permanência, de cerca de R$ 7,6 mil, pago a quem permanece no cargo após atingir as condições para se aposentar.

Para comparação, o trabalhador do INSS, ao se aposentar, enfrenta redutores no cálculo do benefício, teto previdenciário limitado a R$ 7.786,02 (em 2025) e regras cada vez mais duras impostas pela reforma da Previdência de 2019.

Mesmo após décadas de contribuição, dificilmente um cidadão comum se aposenta com o valor integral do último salário.

Enquanto o ministro mantém integralidade e paridade — prerrogativas garantidas aos membros da magistratura —, o trabalhador vê seu benefício corroído pela inflação, descontos e teto previdenciário.

O contraste expõe a distância entre o sistema previdenciário da elite do funcionalismo e o regime geral que atinge a maioria dos brasileiros.

A aposentadoria de Barroso, portanto, simboliza mais do que uma transição pessoal: ela escancara a desigualdade estrutural entre quem julga e quem é julgado, entre quem formula as regras e quem sofre seus efeitos.