Governo prevê economia de R$ 70 bilhões em dois anos com pacote fiscal; medidas abrangem abono salarial, supersalários e previdência militar
Com a promessa de economizar R$ 70
bilhões nos próximos dois anos, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad,
anunciou na noite dessa quarta-feira (27) as linhas gerais do pacote de corte
de gastos obrigatórios que será detalhado nesta quinta-feira (28). O ministro
anunciou mudanças no abono salarial, na previdência dos militares, nas emendas
parlamentares e indicou que as regras de reajuste do salário mínimo poderão
mudar.
Haddad também anunciou o reforço no
pente-fino de privilégios.
“Para garantir que as políticas
públicas cheguem a quem realmente necessita, vamos aperfeiçoar os mecanismos de
controle, que foram desmontados no período anterior. Fraudes e distorções
atrasam o atendimento a quem mais precisa”, declarou o ministro em pronunciamento
em cadeia nacional de rádio e televisão, que durou quase oito minutos.
Previdência dos militares
Em relação à previdência dos militares, o ministro anunciou o aumento da idade
mínima para a reserva e mais rigor nas regras de pensões.
“Para as aposentadorias militares, nós
vamos promover mais igualdade, com a instituição de uma idade mínima para a
reserva e a limitação de transferência de pensões, além de outros ajustes. São
mudanças justas e necessárias”, disse Haddad.
O ministro não confirmou se a proposta
prevê a introdução de idade mínima de 55 anos e a proibição de pagamento de
pensões nos casos de morte ficta, quando o militar é expulso das Forças
Armadas, mas até agora é considerado como morto pela legislação. Na semana
passada, Haddad tinha dito que as mudanças na previdência dos militares
gerariam economia de R$ 2 bilhões por ano.
Abono e salário mínimo
Sobre o abono salarial, que equivale a uma espécie de 14º salário para quem
ganha até dois salários mínimos por ano com carteira assinada, Haddad disse que
o valor máximo do benefício será mantido em R$ 2.640 (atualmente dois salários
mínimos). O abono, no entanto, passará a ser corrigido pela inflação daqui para
a frente, em vez de subir acima da inflação, como ocorre com o salário mínimo.
Com o reajuste seguindo apenas a
inflação, o valor do abono salarial cairá abaixo de dois salários mínimos ao
longo dos anos. “Esse valor será corrigido pela inflação nos próximos anos e se
tornará permanente quando corresponder a um salário mínimo e meio”, declarou o
ministro.
O ministro indicou que a regra de
reajuste do salário mínimo sofrerá mudanças para se adaptar ao teto de
crescimento de gastos do arcabouço fiscal, que limita a expansão dos gastos
públicos a 2,5% acima da inflação. “Já devolvemos ao trabalhador e à trabalhadora
o ganho real no salário mínimo. Esse direito, esquecido pelo governo anterior,
retornou com o presidente Lula. E com as novas regras propostas, o salário
mínimo continuará subindo acima da inflação, de forma sustentável e dentro da
nova regra fiscal”, afirmou.
Atualmente, o salário mínimo é
corrigido pela inflação do ano anterior pelo Índice Nacional de Preços ao
Consumidor (INPC) mais o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de dois
anos antes. Com a mudança, haverá um teto que limitará o crescimento do PIB a
2,5% acima da inflação.
Supersalários e emendas
Haddad também mencionou a intenção de limitar os supersalários no serviço
público ao corrigir brechas na legislação que permitem o pagamento acima do
teto.
“As medidas também combatem
privilégios incompatíveis com o princípio da igualdade. Vamos corrigir excessos
e garantir que todos os agentes públicos estejam sujeitos ao teto
constitucional”, disse.
Sobre as emendas parlamentares, Haddad
disse que o governo, com o Supremo Tribunal Federal e o Congresso, aprimoraram
as regras do Orçamento. “O montante global das emendas parlamentares crescerá
abaixo do limite das regras fiscais. Além disso, 50% das emendas das comissões
do Congresso passarão a ir obrigatoriamente para a saúde pública, reforçando o
SUS [Sistema Único de Saúde]”, declarou.
Estimativa
Segundo Haddad, as medidas resultarão em economia de R$ 70 bilhões em gastos
obrigatórios até 2026, permitindo que as despesas do governo se enquadrem
dentro do arcabouço fiscal.
O ministro anunciou que, caso o
governo registre déficit primário, despesas maiores que as receitas sem os
juros da dívida pública, ficará proibida a criação, ampliação ou prorrogação de
benefícios tributários.
“Essas medidas que mencionei vão gerar
uma economia de R$ 70 bilhões nos próximos dois anos e consolidam o compromisso
deste governo com a sustentabilidade fiscal do país”, declarou.
Para o ministro da Fazenda, a
aprovação do pacote será importante para reduzir a inflação e baixar os juros
no futuro. De acordo com ele, o governo elaborou a proposta de modo a que quem
ganhe mais contribua mais. Em tese, o pacote envolve o envio de uma proposta de
emenda à Constituição (PEC), de um projeto de lei complementar e de
substitutivos a projetos de lei que tramitam no Congresso.
“Combater a inflação, reduzir o custo
da dívida pública e ter juros mais baixos é parte central de nosso olhar
humanista sobre a economia. O Brasil de hoje não é mais o Brasil que fechava os
olhos para as desigualdades e para as dificuldades da nossa gente. Quem ganha
mais deve contribuir mais, permitindo que possamos investir em áreas que
transformam a vida das pessoas”, concluiu Haddad.
Isenção de IR
O governo enviará, combinado ao pacote
de corte de gastos obrigatórios, a proposta para isentar de Imposto de Renda
quem ganha até R$ 5 mil por mês, disse em pronunciamento nesta noite o ministro
da Fazenda, Fernando Haddad. Ele esclareceu que a medida não terá impacto sobre
as contas públicas porque será bancada com a taxação extra de quem ganha mais
de R$ 50 mil mensais.
“É o Brasil justo, com menos imposto e
mais dinheiro no bolso para investir no seu pequeno negócio, impulsionar o
comércio no seu bairro e ajudar a sua cidade a crescer. A nova medida não trará
impacto fiscal, ou seja, não aumentará os gastos do governo. Porque quem tem
renda superior a R$ 50 mil por mês pagará um pouco mais. Tudo sem excessos e
respeitando padrões internacionais consagrados”, disse o ministro em
pronunciamento em cadeia nacional de rádio e de televisão.
Segundo Haddad, a medida faz parte da
segunda etapa da reforma tributária, que prevê a reforma do Imposto de Renda.
No pronunciamento, o ministro lembrou da reforma tributária do consumo,
promulgada no ano passado e em regulamentação pelo Congresso, que trará outros
benefícios às classes baixa e média.
“Essa medida, combinada à histórica Reforma Tributária, fará com que grande parte do povo brasileiro não pague nem Imposto de Renda e nem imposto sobre produtos da cesta básica, inclusive a carne. Corrigindo grande parte da inaceitável injustiça tributária, que aprofundava a desigualdade social em nosso país”, acrescentou o ministro.
Agência Brasil**
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