quinta-feira, fevereiro 20, 2025
Em 10 anos, rede estadual de ensino perde 68,2 mil estudantes
O número de estudantes matriculados na
rede estadual de ensino do Rio Grande do Norte caiu 27,04% nos últimos 10 anos,
de acordo com um levantamento feito pela TRIBUNA DO NORTE com base nos dados
disponíveis no Sistema Integrado de Gestão Educacional (SIGEduc). As
informações indicam que, em 2015 foram matriculados 252.201 alunos na rede;
neste ano, são 183.994 matrículas, ou seja, 68.207 estudantes a menos. No
comparativo entre 2025 e 2024 (com 200.280 alunos), houve redução de 16.286
matriculados (8,13%). Para a professora Cláudia Santa Rosa, um dos fatores para
o cenário é a falta de estrutura, que tem tornado a rede pouco atrativa.
A reportagem procurou a Secretaria de Estado da Educação, Cultura, Esporte e
Lazer (SEEC) para comentar os dados, mas não houve retorno até o fechamento
desta edição. Conforme os números apurados, a maior redução ocorreu nos anos
finais do Ensino Fundamental, que teve 87.349 alunos matriculados em 2015. Este
ano, são 51.887 (perda de 35.462 estudantes). Depois, vêm os anos iniciais do
Ensino Fundamental – foram 46.977 matriculados em 2015 e 26.446 ( 20.531 a
menos) em 2025 – e do Ensino Médio (com 118.440 em 2015 e 105.661 neste ano), o
que significa uma perda de 12.779 estudantes em 10 anos.
Para Cláudia Santa Rosa, doutora em Educação, a concentração da maior parte da
redução – registrada no Ensino Fundamental – se dá em razão da transferência
dos estudantes para as redes municipais, geralmente para escolas com melhor
infraestrutura. “Nos últimos tempos, várias famílias transferiram os filhos,
alegando que nos Municípios existem melhores condições de ensino. E a gente
observa que muitas prefeituras têm investido em questões como a climatização
das escolas, por exemplo”, frisa a especialista.
De acordo com Santa Rosa, outros fatores também podem ser citados como agentes
que resultam na perda dos estudantes na rede estadual, especialmente em séries
dos anos finais do Ensino Fundamental e também de todo o Ensino Médio. “A gente
não pode ignorar que existe o jovem ‘nem-nem’, aquele que não trabalha nem
estuda. E, se a gente faz uma análise com o recorte de uma década, podemos
citar, inclusive, a questão da queda de natalidade, que também impacta no
número de matriculados”, comenta a professora.
A falta de atratividade nas escolas, seja por questões estruturais ou de
ensino, propriamente ditas, é o principal gargalo, segundo Santa Rosa. “Não
existe um fator apenas, mas um aspecto que eu destaco é a desconexão entre a
escola e as necessidades dos estudantes. E as escolas da rede estadual,
especialmente, são muito carentes de necessidades elementares, como
climatização, material didático, componente curricular e até mesmo de um
professor que faça a diferença na vida do aluno”, avalia a especialista.
Para reverter a situação, Cláudia Santa Rosa defende melhorias estruturais, bem
como um projeto pedagógico que torne as escolas mais atrativas. “É preciso
garantir professores e projetos que façam sentido. Em relação à estrutura, é
importante mencionar, ainda, questões como o transporte escolar, que deve ser
fornecido de forma regular e sistêmica. Há relatos de alunos que perdem parte
da aula por conta do ônibus, que faz o transporte de todos os turnos e,
portanto, preciso sair mais cedo para não atrasar a chegada da turma seguinte”,
diz.
“Também é preciso usar a tecnologia dos laboratórios para tornar o ambiente
interessante e motivar o jovem a permanecer na escola”, acrescenta a
professora. De acordo com os dados levantados pela reportagem, desde 2015 os
números de estudantes matriculados na rede estadual de ensino registram quedas
quase que de maneira sucessiva, ano após ano. A exceção foram os anos de 2021,
quando foram matriculados 222,2 mil alunos (aumento de 2,3% em relação a 2020,
que teve 215,8 mil matrículas); e 2024, com 200,2 mil matrículas (alta de 0,4%
em relação a 2023, que registrou 199,4 mil alunos matriculados).
NÚMERO:
Matrículas na rede estadual de ensino do RN
2015: 252.201
2016: 246.701
2017: 236.071
2018: 221.912
2019: 216.873
2020: 215.885
2021: 222.233
2022: 211.606
2023: 199.483
2024: 200.280
2025: 183.994
Fonte: SIGEduc / SEEC